Agricultoras e agricultores cearenses trocam experiências e sementes no 13º CBA 

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O evento aconteceu em Juazeiro da Bahia e reuniu mais de 800 agricultores do Semiárido Brasileiro

Por Alice Sousa

Entre os dias 15 e 18 de outubro, o CETRA participou do 13° Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA) em Juazeiro, na Bahia. Em 2025, o evento sediou pela primeira vez o Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores/as promovido pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), além de contar com outros espaços de diálogo entre saberes populares e acadêmicos, como o Terreiro de Inovações Camponesas, os Tapiris de Saberes e as atividades autogestionadas. 

O CBA é realizado a cada dois anos pela Articulação Brasileira de Agroecologia (ABA) num espaço de encontro de saberes, construção de conhecimentos e fortalecimento da agroecologia como ciência. Além de pesquisadores/as e estudantes, as últimas edições do CBA têm envolvido a participação de  agricultores/as, técnicos/as, organizações da sociedade civil e formuladores de políticas públicas. Neste ano é comemorada a 13ª edição do evento com o tema “Agroecologia, Convivência com os Territórios Brasileiros e Justiça Climática”. 

Grupo do Cetra no CBA

A caravana do CETRA contou com cerca de 18 pessoas mobilizadas por diversas ações que a instituição desenvolve nos territórios, como o projeto Cultivando Futuros por meio da Rede ATER Nordeste de Agroecologia; os projetos Uma Terra e Duas Águas (P1+2) por meio da ASA, os projetos Baraúnas e Jandaíras em parceria com a Rede ATER NE, o GT de Mulheres da ANA, a Rede Feminismo e Agroecologia do Nordeste e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), por meio do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural (DATER). A caravana apresentou trabalhos científicos e socializou experiências nos espaços de diálogos e partilha de aprendizado do evento: 

  • A experiência da Rede de Feiras Agroecológicas e Solidárias do Ceará, a tecnologia de Reúso de águas cinzas para irrigação de Sistema Agroflorestal (RAC-SAF) dos quintais produtivos agroecológicos e as tecnologias sociais de convivência com o semiárido (Terreiro de Inovações); 
  • Várias experiências e pesquisa-ação descritas em artigos e relatos de experiências, sendo apresentadas pelas agricultoras e equipe técnica do CETRA no Tapiri de Saberes, entre elas: o trabalho de pesquisa realizado no município de Itapipoca/CE, que traz as Trajetórias da Agricultura Familiar e transição agroecológica no município; 
  • Seminário Monitoramento Participativo de Políticas Públicas para a agricultura e alimentação: aprendizados do Projeto Cultivando Futuros, Seminário ATER Mulher — Construindo políticas públicas para a autonomia das mulheres rurais e de povos e comunidades tradicionais no Brasil, da feira da agrobiodiversidade  e do Encontro de Agricultores/as Experimentadores/as.  

“A Agroecologia dá resultado!”

O agricultor José Oliveira da Costa, beneficiário do projeto Uma Terra e Duas Águas (P1+2) apoiado pelo CETRA, que participou da pesquisa-ação do projeto Cultivando Futuros, lamentou que não conseguiu estar presente em todos os espaços de discussão, pois eram muitas atividades ao mesmo tempo, mas o que encantou Zezão, como é popularmente conhecido na comunidade da Lagoinha 1, em Itapipoca, foi a troca de sementes crioulas e a oportunidade de expansão de conhecimento durante as trocas. 

Claudia Pereira voltou para casa na comunidade de Timbaúba, em Itapipoca, inspirada: “A agroecologia dá resultado! Ela é bem benéfica para a gente, para nós, principalmente agricultoras de modo geral. Várias plenárias que eu assisti e participei fizeram com que algumas de nós vissem o quanto de potencial temos”, declarou a agricultora. 

O evento contou com uma participação expressiva da juventude, inclusive na caravana do CETRA, com o Balanço do Coqueiro, grupo cultural formado por jovens filhas e filhos de assentados da reforma agrária da comunidade de Sítio Coqueiro, Assentamento Maceió, Itapipoca. 

Rojane Santos e Barbara Alves apresentaram, em dois eixos diferentes: como grupo artístico, no eixo de arte, cultura, comunicação popular e agroecologia, e como grupo produtivo, no eixo de gênero e feminismos, tendo em vista que o coletivo de produção é majoritariamente feminino. Arildo Soares apresentou sua experiência com a Mandiovos. 

Aprendizados do Projeto Cultivando Futuros no Congresso Brasileiro de Agroecologia

Entre os destaques da 13ª edição do CBA está o lançamento dos cadernos “Estações de Monitoramento de Políticas Públicas no Semiárido Brasileiro”, que são frutos do rico processo de pesquisa, sistematização e incidência política da Rede Ater Nordeste no contexto do projeto “Cultivando Futuros: transição agroecológica justa em sistemas alimentares do Semiárido brasileiro”. Entre eles, está o caderno produzido pelo CETRA, “Trajetórias da Agricultura Familiar e transição agroecológica no município de Itapipoca/CE”. 

Neila Santos, coordenadora-geral do CETRA, destaca a publicação como instrumento de fortalecimento das ações de incidência política. “A pesquisa-ação possibilitou compreender a trajetória dos sistemas agroalimentares do município de Itapipoca, olhando para o papel das políticas públicas e do Estado, com o propósito de avançar na construção de agendas com a sociedade civil”, explica. 

Ao todo, são 12 estudos de caso sobre o tema, realizados nos territórios de atuação das organizações integrantes da rede, presente em seis estados nordestinos: Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

O CETRA também participou ativamente do Seminário “Monitoramento Participativo de Políticas Públicas para a Agricultura e Alimentação: Aprendizados do Projeto Cultivando Futuros”, que proporcionou o encontro de pessoas dos 12 territórios, nos 6 estados de atuação da Rede ATER NE de Agroecologia, que participaram da pesquisa-ação do projeto Cultivando Futuros. 

O Seminário teve como objetivos: socializar aprendizados da pesquisa-ação de monitoramento de políticas públicas em territórios do Semiárido brasileiro em 2024 e 2025; divulgar e discutir conquistas da incidência política realizada pelas redes da sociedade civil nos últimos dois anos (2024 e 2025); apresentar a proposta do sistema de monitoramento dos efeitos locais de políticas públicas integradas aos Planos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional, de Agroecologia e Produção Orgânica e de Abastecimento Alimentar; realizar o lançamento de publicações produzidas no âmbito do projeto Cultivando Futuros, ampliar a troca de saberes em torno da construção do conhecimento agroecológico, em particular no que se refere aos processos participativos de elaboração, incidência e monitoramento de políticas públicas relacionados à governança territorial dos sistemas alimentares. 

Na oportunidade foram apresentadas as experiências realizadas pela entidade SASOP, na Bahia, e do Observatório da Borborema, Paraíba, realizado pela entidade AS-PTA. A atividade contou também com os debatedores/as: a agricultora cearense Núbia Carvalho Lima (Assentamento Morro Agudo de Nova Russas/CE), que trouxe a experiência de como foi participar da pesquisa-ação no seu município; Beatriz Bohner (Brot für die Welt – Pão para o Mundo, Alemanha), parceira na coordenação do projeto; Antonio Barbosa, representando a Articulação do Semiárido Brasileiro/ASA; Paulo Petersen, por meio da Articulação Nacional de Agroecologia/ANA e Patrícia Tavares, secretária executiva da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica/CNAPO. Em todas as falas foi destacada a importância da pesquisa-ação para fortalecer ações de incidência política e propor transformações consistentes nos sistemas alimentares no Brasil e no mundo, a partir de experiências concretas dos territórios agroecológicos. 

O Cultivando Futuros é uma realização da AS-PTA, da Rede ATER Nordeste de Agroecologia e da organização de cooperação internacional Pão para o Mundo (Brot für die Welt, em alemão), com financiamento do Ministério Federal da Agricultura, Alimentação e Identidade Regional da Alemanha (BMLEH, na sigla em alemão).

Confira os 12 cadernos: https://redeaterne.org.br/acervo/#estacoes 

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