Territórios de Atuação

O CETRA atua em três regiões do Estado do Ceará que aqui estão distribuídas em três territórios de identidade rural: Sertão Central, Sobral e Vales do Curu/Litoral Oeste. Este último agrega municípios (Trairi, Paracuru e São Luís do Curu) que integram a região metropolitana de acordo com a distribuição das regiões de planejamento do Governo do Estado, porém, a identidade e ações das famílias com as quais trabalhamos se relaciona com o território do Vales do Curu/Litoral Oeste, ao qual pertenciam até 2013.

Território do Sertão Central

O território do Sertão Central fica a 155 km de distância de Fortaleza, em média. A região era habitada, principalmente, por indígenas Jenipapo, Kanyndé, Taúia e Quixarás, que foram, em grande parte, expulsos e mortos quando a região foi dividida em sesmarias e doadas para não-indígenas que, a partir de então, foram ocupando e construindo diversas fazendas às margens de rios, entre eles: Jaguaribe, Banabuiú e Salgado. Atualmente, o território é ocupado por fazendeiros/as, camponeses/as, agricultores/as familiares, quilombolas, indígenas, pescadores/as artesanais e povos de terreiros, distribuídos em treze municípios: Quixeramobim, Quixadá, Choró, Banabuiú, Senador Pompeu, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Solonópole, Deputado Irapuan Pinheiro, Milhã, Mombaça, Ibaretama e Ibicuitinga. 

Terras dos profetas da chuva, de Antônio Conselheiro, da escritora Rachel de Queiroz, de Joaquim Ferreira da Silva, o mestre da agricultura, do quilombo Sítio Veiga, do compositor e cantor Fausto Nilo, sertões são conhecidos também por suas paisagens marcantes, como o açude Cedro, construído por Dom Pedro II, e os monólitos de Quixadá, com destaque para a “Pedra da Galinha Choca”, por exemplo, que fazem parte do patrimônio cultural brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), além de possuir o Centro geodésico do Ceará, situado no município de Quixeramobim. É um território conhecido por sua arte, cultura, belezas naturais e, curiosamente, pelas histórias da aparição de extraterrestres, sendo cotado para diversas cinematografias.

Com predominância da mata branca do bioma caatinga, que embeleza os sertões e traz à sua população modos de vida de convivência com o semiárido, sua população se alimenta da produção de alimentos em lavouras permanentes e temporárias, criação de animais, produção de leite e a apicultura, produzidos por agricultores/as familiares, pelas comunidades tradicionais ou pelas/os fazendeiras/os.

A história do CETRA neste território se iniciou no final da década de 70 e no início da década de 80, contribuindo com as famílias rurais no acesso à terra, dentre elas os assentamentos Califórnia/Quixadá e Monte Castelo/Choró e, desde 2003, está nesses municípios com assessoria técnica, por meio de projetos como o Dom Helder Câmara, contribuindo com a formação da Rede de Agricultores/as Agroecológicos/as do território do Sertão Central, com a estruturação da cooperativa de crédito rural do Sertão Central, com o fundo rotativo e solidário do território e prestando apoio à realização das feiras da agricultura familiar de Quixeramobim, à feira agroecológica de Pedra Branca, à feira da agricultura familiar de Belo Monte, em Quixeramobim e ao grupo de feirantes de Quixadá, que comercializam na Feira Agroecológica de Fortaleza.  

Território de Sobral

O território de Sobral, assim como todos os territórios brasileiros, tem origem indígena, sendo habitado, especialmente, pelas etnias Arariús e Jaibaras. É formado por 18 municípios: Alcântaras, Cariré, Coreaú, Forquilha, Frecheirinha, Graça, Groaíras, Massapê, Meruoca, Moraújo, Mucambo, Pacujá, Pires Ferreira, Reriutaba, Santana do Acaraú, Senador Sá, Sobral e Varjota, conforme a distribuição do Governo do Estado do Ceará.  Seus municípios ficam, em média, a 221,4 km de distância de Fortaleza.

O maior município do território é Sobral, que é uma das maiores e mais desenvolvidas cidades do Ceará. Sobral é conhecida internacionalmente por ter sido o local de comprovação da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, em 1919. Tem o Arco de Nossa Senhora de Fátima, inspirado no Arco do Triunfo da França, além do conjunto arquitetônico e urbanístico com diversas edificações, como museu, teatro e igrejas que são tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Território de muitas riquezas e belezas naturais espalhadas pelo sertão e pelas serras, os municípios de Meruoca, Alcântaras,  Massapê e Sobral são requisitados pelo turismo de aventura, montanhismo e acesso a bicas e cachoeiras típicas da região. A arte e a cultura estão presentes na música e na comédia, representadas por duas personalidades artísticas muito conhecidas no Brasil e no mundo: Belchior e Renato Aragão (Didi). O artesanato também é forte na região, especialmente expresso com a palha de carnaúba. Há povos e comunidades tradicionais (quilombolas, pescadores/as artesanais e membros de terreiros) que estão presentes em vários dos municípios, como é o caso de Varjota e Moraújo e Pacujá. A agricultura desenvolvida na região é especialmente familiar e o extrativismo da palha da carnaúba é expressivo em alguns municípios. O CETRA atuou na região com programa de cisternas de placas na década de 2000 e, a partir de 2015, ampliou sua ação no território através da assessoria técnica e extensão rural a diversas famílias agricultoras de 15 municípios da região, por meio do Projeto Paulo Freire e, mais recentemente, por meio dos projetos Saberes do Semiárido e Redes em Ação 1 e 2, com apoio à comercialização agroecológica em feiras agroecológicas e solidárias nos municípios de Sobral, Graça e Senador Sá e no Quiosque Agroecológico, um espaço fixo de comercialização da agricultura familiar  situado no Parque da Cidade, no município de Sobral. No território há diversas experiências agroecológicas e de convivência com o semiárido, entre elas quintais produtivos, reuso de águas cinzas, biodigestores, casas de sementes e diversas organizações sociais que lutam em defesa dos direitos dos povos do campo e da cidade. 

Vales do Curu/Litoral Oeste

Território de muitas lutas, de brava gente, dos povos originários da etnia Tremembé. Território dos três climas – serra, sertão e praia -, da reforma agrária expressa em dezenas de assentamentos federais e estaduais. Território dos quilombolas de Itapipoca e Tururu, dos povos de terreiro, das juventudes da cidade e do campo, do movimento das mulheres trabalhadoras rurais, das/os pescadoras/es artesanais, marisqueiras e algueiras, das/os diversas/os sindicalistas e militantes sociais aguerridas/os por direitos e vida digna, como a agricultora, feminista e poetisa Nazaré Flor (in memoria).

Rico em biodiversidade, cultura, arte e história, o território também tem paisagens encantadoras visualizadas em suas bicas com frescor e resquícios de Mata Atlântica, das serras, de belas praias situadas nos municípios de Paracuru, Trairi, Itarema, Paraipaba, Amontada e Itapipoca, com a beleza da mata branca da Caatinga no sertão e dos sítios arqueológicos do tempo dos dinossauros. A agricultura familiar, com sua diversidade de produção, é forte na região, alimentando o povo e movimentando a economia de vários municípios.  

Território com diversas expressões da agroecologia, espalhadas em quintais produtivos, em feiras agroecológicas e solidárias nos municípios de Itapipoca, Trairi, Paracuru, Apuiarés e Pentecoste, no acesso ao crédito por meio do Fundo Rotativo (FRAS), nos sistemas agroflorestais, nas casas de sementes, na cultura alimentar, em diversas tecnologias sociais, como cisternas de placa de consumo e produção – calçadão, telhadão, enxurrada, tanques de pedra, reuso de águas cinzas, unidades de beneficiamento de alimentos, como óleo de coco, urucum, café, cajuína e mel – e no conhecimento de dezenas de multiplicadoras e multiplicadores da agroecologia e dos povos tradicionais.

O CETRA nasceu neste território e, desde o final da década de 70, contribuiu na luta por direitos das/os trabalhadoras/es rurais, seja no acesso à terra onde diversos assentamentos, a exemplo dos de Maceió/Itapipoca e Várzea do Mundaú/Trairi,  foram desapropriados com a colaboração da assessoria jurídica do CETRA e continua, desde 1981, realizando assessoria técnica e extensão rural a diversos grupos, associações, comunidades rurais e tradicionais, às feiras agroecológicas e solidárias, às mulheres e juventudes e aos povos indígenas e quilombolas.