“A minha vida foi muito difícil, mas consegui superar tudo com essas formações”
Os resultados de 20 anos de multiplicação do conhecimento agroecológico
Por Israel Vancouver
A agroecologia é um importante fator no desenvolvimento mundial. É nesse sentido que o CETRA atua, desde sua criação, na perspectiva do reforço a essa pauta necessária, especialmente num contexto de fortalecimento do agronegócio e da publicidade gerada em cima dele. Essa propaganda explícita financiada por membros marcados por privilégios e pertencentes ao topo da pirâmide social brasileira é um dos motivos que dificultam a propagação dos ideais agroecológicos que beneficiam nossos ecossistemas, nosso país e a segurança alimentar do nosso povo; o estabelecimento da agroecologia familiar é o primeiro passo para a construção de um Brasil sem fome.
Tendo em vista os desafios para a concretização dessa temática, as pessoas que compõem o CETRA realizam formações de multiplicadores em agroecologia. O trabalho realizado desde 2002 já completa mais de 20 anos e representa o semear da esperança na realidade de um país mais justo e democrático. É no intuito de ressaltar a importância da formação de multiplicadores agroecológicos e demonstrar a relevância dessa ação na sociedade que surgiram diversos projetos do CETRA, a exemplo do FlorestAção, realizado entre os anos de 2013 e 2015 com o apoio da Petrobras. O projeto fortaleceu as capacidades de agricultores agroecológicos, contribuindo para a ampliação da sustentabilidade ambiental nos agroecossistemas familiares e em comunidades rurais e promovendo a reconversão produtiva, a recuperação de áreas degradadas e a conservação de áreas de vegetação natural.
Uma das pessoas que pode afirmar os benefícios da agroecologia é Maria de Fátima dos Santos, conhecida como Fafá, trabalhadora rural. Começou sua militância no Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR), nos anos 80, acompanhada pelo CETRA no assentamento Maceió. Participou de sua primeira formação como multiplicadora agroecológica no ano de 2006 e não parou desde então. Com reuniões, intercâmbios e oficinas, foi capacitada para enfrentar as dificuldades da vida. Foi coordenadora de ações estaduais representando o CETRA em seminários sobre relações de gênero e políticas de apoio à produção e comercialização. É da coordenação das feiras agroecológicas do Ceará, da rede de agricultores/as, da coordenação social de sindicato, diretora coletiva de mulheres, presidenta da associação de moradores e coordenadora da casa de sementes. É associada e acompanhada pelo CETRA, participando dos projetos Caminho da Sustentabilidade e Agentes Multiplicadores da Agroecologia, os quais, segundo Fátima, fizeram dela o que ela é.
“Eu já praticava agroecologia, mas não sabia. Vim me despertar disso participando das formações, dos intercâmbios, oficinas, capacitações e dos Encontros Territoriais de Agroecologia (ETAS) […]. Essas formações fizeram eu me tornar uma mulher empoderada. Recebi mais de 200 intercâmbios e dei várias oficinas de agroecologia, tudo com apoio do CETRA. Me sinto uma mulher realizada” – Maria de Fátima dos Santos, trabalhadora rural associada ao CETRA.
Fafá é parte da história do CETRA como atuantes na multiplicação agroecológica em nosso país, numa tentativa de mudar a realidade vigente de um Brasil desigual e de alimentação cada vez mais prejudicial à saúde populacional.
“A minha vida foi muito difícil, mas consegui superar tudo com essas formações. Estou hoje com 60 anos, aposentada e ainda na ativa. Consigo viver bem porque me alimentei bem e porque fiz o que tinha que fazer de bom. Sempre comi comida de verdade e ajudei a quem eu pude e como eu pude. Estou firme e forte como mulher agricultora feminista, mãe e avó” – Maria de Fátima dos Santos, trabalhadora rural associada ao CETRA.
Assim como Fafá, José Júlio Rodrigues, conhecido como Zé Júlio, também relata uma mudança de vida graças à agroecologia e o projeto de multiplicação agroecológica desenvolvido pelo CETRA. Zé Júlio e sua esposa Francisca Menezes Rodrigues, conhecida como Tica, participam das redes de agroecologia desde 2003 e falam com orgulho de toda a trajetória realizada na aquisição de conhecimentos agroecológicos e do vasto quintal produtivo que possuem hoje.
“Eu tive uma grande oportunidade de ter conseguido me formar em agroecologia para melhorar minha vida. Tenho orgulho disso! Quero agradecer pelos 20 anos que tenho de luta para melhorar de vida. As equipes do “FlorestAção” que recebi na minha casa… Quero agradecer a todos e todas, de coração, porque foi onde eu vim conhecer o mundo com um outro olhar, melhorar de vida, aprender a trabalhar com a natureza. Melhorar de vida com tudo e sobretudo. Meus parabéns, CETRA!” – José Júlio Rodrigues, agricultor associado ao CETRA, do assentamento Várzea do Mundaú, Trairi (CE).
E são esses depoimentos, relatos e histórias que movem o CETRA e reforçam a importância e relevância de uma tarefa realizada há mais de 20 anos. Os resultados da multiplicação do conhecimento agroecológico fazem continuarmos juntos e juntas no nosso trabalho e luta diários pela agroecologia, pela alimentação saudável, pela comida de verdade e por um Brasil sem fome. A agroecologia é o caminho. Venha caminhar conosco!