Lana Almeida, aluna da EFA Danilo Almeida, de Quixeramobim, foi indicada pelo CETRA para a 31° Escola de Formação de Juventudes para a Convivência com o Semiárido, do IRPAA

Por Rose Serafim

A estudante Lana Almeida, de 18 anos, participou de uma experiência saída direto dos livros de história. Ela integrou a 31° turma da Escola de Formação de Juventudes para a Convivência com o Semiárido, realizada pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), em Juazeiro da Bahia, de 8 a 21 de julho. Dentro da programação, além de aulas práticas sobre diversos assuntos, ela fez dois intercâmbios: o primeiro para Sobradinho (BA), onde conheceu a barragem da usina hidrelétrica que desapropriou dezenas de famílias; e outro em Canudos, local de uma das batalhas sertanejas mais conhecidas, encabeçada por Antônio Conselheiro, figura emblemática de Quixeramobim, onde Lana estuda.

“Foi incrível estar naquele lugar que eu tinha visto a história quando estava no ensino médio e também na visita a casa de Antônio Conselheiro, que fica em Quixeramobim. Mas, estar ali foi sem dúvidas uma experiência única de ver onde tudo aconteceu, ouvir de alguém que é descendente direto de alguém que estava na guerra, como foi o caso de uma senhora que estava acompanhando nossa visita”, conta Lana.

Lana Almeida, educanda da Escola Família Agrícola Danilo Almeida.

Canudos foi palco de um conflito ocorrido entre 1896 e 1897. O então arraial chamou a atenção da recém proclamada República pelo grande número de pessoas vivendo em comunidade, com autogestão, e com forte influência religiosa de Antônio Conselheiro. A história é narrada no livro “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, onde o autor, enviado à época para o local, narra como a população foi dizimada (estima-se a morte de pelo menos 25 mil pessoas ) e o arraial incendiado pelo exército após muita resistência.

“Foram 2 intercâmbios, um em canudos, local histórico que mostra o local de luta onde o governo da época teve várias investidas para derrubar uma comunidade a qual várias pessoas que buscavam viver em condições melhores, e liderada por Antônio conselheiro. O segundo foi a Sobradinho. Visitamos a usina hidroelétrica com o objetivo de termos uma percepção dos impactos sociais de uma obra dessa magnitude para as famílias que antes moravam ali e foram tiradas sem ter nenhum direito a uma nova terra ou lugar para morar”, destaca Lana.

Além dessas vivências, as e os participantes passaram por diversas aulas práticas sobre viveiros, hidroestesia, que é uma forma de identificar água no subsolo com uso de varetas, aprisco composto e quintal produtivo. Segundo a estudante, a experiência ampliou a percepção sobre as diversas formas de Convivência com o Semiárido e com os períodos de estiagem ou seca. As vivências fazem parte do tema da edição deste ano: “Vida e resistência no protagonismo frente às mudanças climáticas”.

A 31ª EFJCSA reuniu 36 jovens, vindos/a de Escolas Famílias Agrícolas (EFA’s), movimentos sociais populares, coletivos de juventude, comunidades tradicionais, entidades parceiras do Irpaa e jovens multiplicadores do projeto Baraúnas dos Sertões. 

Lana foi indicada pelo CETRA como educanda da EFA e filha da agricultora e feirante Lourdizete que, por sua vez, integra o projeto Baraúnas dos Sertões, um curso de especialização e extensão em ATER Agroecológica, Feminista e Antirracista no Semiárido Brasileiro. 

O projeto Baraúnas, que apoiou 31ª EFJCSA,  foi desenvolvido a partir das Redes Feminismo e Agroecologia e Rede ATER Nordeste, sob a coordenação da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e execução juntamente com a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB e Universidade Federal do Piauí – UFPI, além de recurso do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), através da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF).

“O projeto Baraúnas dos Sertões se afirma como um Programa de formação no âmbito da ATER, sendo composto pelo Curso de especialização e extensão, intercâmbios,  seminários, capacitações, encontros temáticos. Essas ações chegam para fortalecer os quintais produtivos das mulheres, as experiências de transição agroecológica das famílias agricultoras, as iniciativas das juventudes rurais e o trabalho dos agentes de ATER no Semiárido nordestino”, diz Ana Cristina Soares, mobilizadora estadual do projeto que acompanha o CETRA e o Esplar no Ceará e o Miqcb no Maranhão.

Nessa perspectiva que o Baraúnas apoiou a ida da jovem para a 31ª EFJCSA, completa Ana Cristina Sampaio.