Cultivando Futuros pesquisa os mercados acessados pela agricultura familiar de Itapipoca
Quarta e última oficina do projeto-pesquisa buscou entender o escoamento da produção da agricultura familiar no município
Por Rose Serafim e Leonardo Reis

O projeto Cultivando Futuros encerrou seu ciclo de oficinas em Itapipoca com um encontro dedicado a compreender os caminhos percorridos pelos alimentos da agricultura familiar até chegarem às mesas, feiras e trocas da região. A quarta e última oficina teve como foco os mercados acessados pelas famílias agricultoras do município ao longo das últimas décadas.
A atividade reuniu agricultoras e agricultores, estudantes, lideranças políticas e territoriais, num momento de escuta, troca de saberes e construção coletiva do conhecimento. Na primeira parte do encontro, a conversa girou em torno da importância dos mercados solidários — como a Feira Agroecológica e Solidária de Itapipoca, que há 19 anos fortalece a circulação de alimentos saudáveis e as relações diretas entre campo e cidade.
“A gente fez a quarta oficina do projeto que foi intitulada Mercados Acessados pela Agricultura Familiar. Nós discutimos os conceitos de cada tipo de mercado, os alimentos produzidos pela agricultura familiar no município de Itapipoca e em qual desses mercados os produtos são comercializados. Discutimos sobre políticas públicas quando falamos sobre o mercado institucional, que aí foi mencionado o PAA indígena, PAA, PNAE e especialmente o PAA indígena”, comenta a agrônoma do projeto Floresta de Alimentos e facilitadora das oficinas três e quatro do Cultivando Futuros, Joelma Araújo.
A equipe do CETRA apresentou um levantamento prévio com os principais alimentos produzidos na zona rural do município. A partir disso, o grupo foi convidado a se dividir em três equipes — representando as regiões da serra, do sertão e da praia — para aprofundar e complementar esse mapeamento.
As discussões em grupo permitiram identificar não apenas os alimentos mais comuns em cada território, mas também as formas de circulação desses produtos: feiras, mercados locais, doações, trocas e o consumo familiar. Ao final, todas e todos se reuniram para socializar os resultados e construir um panorama coletivo dos principais alimentos atualmente produzidos nas diversas regiões de Itapipoca.

Encerrando ciclos
Ao longo do projeto, foi possível conhecer melhor a história das políticas públicas em Itapipoca, e como elas influenciaram o crescimento da cidade e a vida da sua gente. Foram investigados documentos, ouvidos relatos e com isso tentar entender as mudanças que marcaram diferentes momentos da história do município. Foram muitos aprendizados que ajudaram a enxergar o papel das decisões políticas no dia a dia da população.

A importância desse acompanhamento está no fato de que ele permite entender melhor o fluxo dos produtos e avaliar se as políticas públicas existentes são realmente relevantes e suficientes para absorver essa produção. Além disso, o processo trouxe uma contribuição significativa ao possibilitar que as escolas passassem a contar com alimentos vindos da agricultura familiar. Isso representa um avanço importante no fortalecimento da soberania e da segurança alimentar e nutricional.
“O Cultivando Futuros é mais do que um levantamento sobre cultura alimentar, mercados e mudanças ao longo do tempo. É um estudo realizado com e para a população, abrilhantando ainda mais as mentes de mulheres, homens e jovens do campo, além de compartilhar com outras pessoas a história, as lutas e saberes do povo. Nas oficinas em que participei, posso dizer que o Cetra, as/os agricultoras/es, assentadas/os, povos e comunidades tradicionais e demais populações da praia, da serra e do sertão de Itapipoca, no Ceará”, comenta a agrônoma e relatora das oficinas três e quatro no município de Itapipoca, Amanda do Lago.
“O processo todo da pesquisa-ação, foi um momento muito importante, de linha do tempo e de resgate de algumas informações, pelo menos não que eu tinha noção, mas importante. A Gente faz muita coisa hoje porque alguém fez no passado, então os passos vão se dando porque alguém começou essa caminhada. Foi muito importante ver esse processo todo desdas conquistas do campo e da cidade”, técnica de campo do P1+2 e articuladora e sistematizadora das oficinas do Cultivando Futuros, Regilane Alves.
“O projeto Cultivando Futuros foi de extrema importância para agricultura familiar do município de Itapipoca. Proporcionou o diálogo entre diferentes atores sociais, como agricultores/as, comunidades tradicionais, movimentos, sindicatos, associações, poder público, que serviu como ponte na construção do conhecimento e ajudou a identificar as mudanças no consumo alimentar nas comunidades rurais do município”, comenta a coordenadora do P1+2 e facilitadora das oficinas do Cultivando Futuros, Socorro Lima.

Agora, com o encerramento desta etapa, fica o convite para que a reflexão continue – afinal, conhecer o passado é um passo importante para pensar em um futuro mais justo e participativo para todos.
Cultivando Futuros
Ao todo foram quatro oficinas do projeto, sendo as duas primeiras realizadas no final do ano passado (2024) e as outras realizadas este ano (2025). O projeto “Cultivando Futuros: transição agroecológica justa em sistemas alimentares do Semiárido brasileiro” está sendo executado em 25 municípios, por 12 organizações da sociedade civil, nos estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.
A partir das oficinas realizadas nos municípios de atuação do Projeto, será lançada uma coletânea com 12 livros que abordam a trajetória dos sistemas agroalimentares, avanços, desafios e perspectivas em cada região. Uma produção que servirá como instrumento orientador para incidência nos diversos espaços de decisão ocupados por lideranças comunitárias e movimentos sociais nas instâncias municipal, estadual e federal.
O Cultivando Futuros é uma realização da AS-PTA, Pão para o Mundo (Brot fur de Welt) e Rede ATER Nordeste de Agroecologia; com financiamento do Ministério Federal da Alimentação e da Agricultura da Alemanha (BMEL, sigla em alemão).