Troca de saberes fortalece estratégias de convivência com o Semiárido
O intercâmbio de experiência é uma das programações mais esperadas do Encontro Estadual de Agroecologia
O intercâmbio de experiência é uma das programações mais esperadas do Encontro Estadual de Agroecologia
A troca de experiência entre o povo do campo é ferramenta fundamental para a convivência com o Semiárido
Texto e Fotos: Francisco Barbosa
O mês de fevereiro foi marcado pela realização do 1º Encontro Estadual de Agroecologia e Socioeconomia Solidária, que aconteceu nos dias 18 e 21 de fevereiro, no Território de Sobral. O Encontro reuniu aproximadamente 250 agricultores, agricultoras, jovens, representantes de povos indígenas e comunidades quilombolas de vários territórios cearenses com o objetivo de unir as forças dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo por um Semiárido ainda mais vivo e digno. A ação foi realizada pelo Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador – CETRA e pela Rede de Feiras Agroecológicas e Solidárias do Ceará.
O Encontro contou com uma programação voltada para ações desenvolvidas no que diz respeito à agroecologia, direito a terra, economia solidária, acesso à água de qualidade entre outros temas que são pautados no que se refere à convivência com o Semiárido. Durante os quatros dias foram realizadas apresentações artísticas, intercâmbios de experiências, oficinas e plenárias. No penúltimo dia, os/as participantes visitaram algumas experiências, uma delas foi a experiência do agricultor Vanderlei Alves Pereira, 38, e da agricultora Márcia Maria Montes da Silva, 37. O casal apresentou suas produções agroecológicas e algumas tecnologias sociais como cisternas de primeira e segunda água, reuso de águas cinza e o biodigestor.
A propriedade da família fica localizada na Comunidade Casa Forte, no município de Sobral e conta com um total de dois hectares, onde planta feijão, milho, sorgo, sabiá, melancia, ata, pimenta malagueta… É possível passar um dia inteiro falando sobre a sua produção e ainda assim correr o risco de esquecer alguma coisa. Além das plantações, o casal também conta com uma criação de cabras e ovelhas, que hoje somam cinquenta cabeças.
Essa é a segunda vez que o agricultor Francisco Monteiro, 68, da comunidade Jardim, no município de Quixeramobim, visita a experiência da família. “A primeira vez que vim foi no primeiro ETA de Sobral, aí o Vanderlei falou sobre o olho d’água que tem aqui em sua propriedade e que, devido a poucas plantas ao redor desse olho d’água, ele estava com pouca água. Me lembro que a família estava com planos de plantar ao redor do local para preservar a água. Quando soube que iria participar desse Encontro fiz questão de trazer duas mudas de oiticica para serem plantadas ao redor do olho d’água e assim ajudar na preservação da água. Quero voltar aqui futuramente para ver como vai estar as coisas por aqui e como vai estar as oiticicas”, diz.
Maria Dalva Nascimento, 66, agricultora e moradora da comunidade Lagoa do Juá, no município de Itapipoca, também conheceu a experiência de Vanderlei e Márcia, e pra ela, duas coisas chamaram muito a sua atenção. “Pra mim foi muito importante porque é uma grande oportunidade de trocar experiência com pessoas que a gente não conhece. Duas coisas me chamaram muita atenção. A primeira foi a apresentação da linha do tempo da família. Quando chegar em casa quero fazer a minha, de 2009 pra cá. Digo que é de 2009 porque é quando começo a me dedicar totalmente a agricultura. E a outra coisa que me chamou bastante a atenção foi o biogás. A gente saber que as fezes dos animais produz gás pra cozinha… eu fiquei impressionada com isso”, afirma.
“Eu me sinto muito feliz por receber essas pessoas na nossa casa para trocar experiências. A gente, que vive no Semiárido brasileiro, deve ter essa troca de saberes para melhorar ainda mais a nossa convivência com o Semiárido. Achei o povo hoje muito animado e isso é muito gratificante pra gente. As portas daqui de casa vão estar sempre abertas e espero que todos que passam por aqui multipliquem o que viram e conheceram”, finaliza Vanderlei Alves Pereira.