Como uma Semente no Sertão
CETRA e Fundação Avina entregam cisternas e sistemas de reuso do projeto Águas do Sertão no Sertão Central nos municípios de Quixadá e Quixeramobim (CE)
Texto e fotos: Miguel Cela
Os dias 22 e 23 de outubro de 2018 foram de festa e marcaram a entrega de quatro cisternas de placa e quatro sistemas de reuso em escolas de Quixadá e Quixeramobim (CE). As tecnologias de acesso à água, construídas por meio do projeto Águas do Sertão, realizado pelo CETRA em parceria com a Fundação Avina, permitirão o acesso à água de qualidade nos períodos secos e a uma horta com legumes e verduras fresquinhos – da terra para os pratos dos alunos.
Professores/as e alunos/as das escolas de Ensino Fundamental João Gonçalves da Rocha, Maria de Lourdes Ferreira, Osvaldo Martins de Almeida e Alfredo Almeida Machado vêm, desde fevereiro de 2018, recebendo formações em gênero, agroecologia, soberania alimentar e educação contextualizada. As formações fazem parte do processo metodológico adotado pelo projeto Águas do Sertão e, ao final do ciclo, foram construídas por meio de mutirão, as cisternas de placa e os sistemas de reuso de águas – sistema que capta as águas usadas nas pias das cozinhas e, por meio de um conjunto de camadas, as filtra, permitindo que a água limpa seja capaz de aguar as hortas e árvores dos espaços.
Beneficiando diretamente mais de 700 estudantes, professores/as, famílias e membros das comunidades, o projeto permite, segundo Patrícia Fernandes, diretora do Polo Osvaldo Martins de Almeida, uma formação que é, antes de tudo, humana e de valorização da escola. “Por que valoriza? Porque as formações dadas pelo CETRA faz com que a pessoa se torne mais humana, elas tratavam, em primeiro lugar, a questão humana. Então, assim, é um projeto belíssimo. Ele traz a água, a vida, mas ele também forma o ser humano”, lembra.
Para Damiana Moizéis, facilitadora dos processos formativos do projeto, valorizar a questão humana é a semente da agroecologia: “Como educadora popular, o trabalho é contínuo. Mas eu consegui plantar uma semente do questionamento e percebi que os alunos e alunas ficaram mais abertos ao diálogo de valorização da agricultura e da agroecologia. Em algum aluno, em alguma aluna, algo ficou. Isso pra mim já é suficiente”.
Chegado ao fim, o projeto deixa uma marca do “espaço de intercâmbio, do debate da educação contextualizada dentro das escolas da zona rural”, conta Ademir Ligorio, coordenador do projeto. Para Ademir, o principal desafio não foi durante o projeto, mas é a continuidade por parte das escolas. “Daqui pra frente é como as escolas vão dar continuidade a esse processo. Tem escola que acolhe de forma mais bacana, que já tem uma dinâmica, que consegue ter dentro do seu corpo de funcionários alguém de referência que possa acompanhar a produção e manutenção do reuso e da horta.” Desafio reforçado pelos gestores das escolas e pelos parceiros do projeto.
Águas do Sertão
Segundo a consultora em gestão de projetos da Fundação Avina, Lucenir Gomes, “a ideia é que possamos viabilizar, através das diversas parcerias no processo de conectar os diversos atores que podem contribuir para reduzir essa questão da escassez”. Lucenir traz como papel importante da Fundação o fomento aos projetos de sustentabilidade.
O projeto Águas do Sertão inicia, portanto, uma nova fase na vida das alunas e alunos das escolas beneficiadas. Agora os professores têm um novo desafio, o de abordar o acesso à água portável, bem como os elementos que fazem parte do processo de filtragem e armazenamento d’água, e a alimentos de qualidade dentro da sala de aula. É com um sorriso de gratidão no rosto que Patrícia fala do futuro: “que a gente possa estar inserindo na grade curricular o que a gente tem aqui pra mostrar”.