A celebração da agroecologia
A celebração da agorecologia Por Miguel Cela Fotos: Amanda Sampaio, Miguel Cela, Flávia Cavalcante Itapipoca (CE) recebeu, entre os dias 07 e 08...
A celebração da agorecologia Por Miguel Cela Fotos: Amanda Sampaio, Miguel Cela, Flávia Cavalcante Itapipoca (CE) recebeu, entre os dias 07 e 08…
A celebração da agorecologia
Por Miguel Cela
Fotos: Amanda Sampaio, Miguel Cela, Flávia Cavalcante
Itapipoca (CE) recebeu, entre os dias 07 e 08 de dezembro o XI ETA – Encontro Territorial de Agroecologia e Socioeconomia Solidária, com o tema Agroecologia: pelo direito à vida no semiárido. Em formato diferente, o encontro se voltou para dentro, ou seja, para o território das agricultoras e agricultores. Com painéis, análises e oficinas, o XI ETA celebrou a agroecologia, a luta por direitos e o território do Vales do Curu e Aracatiaçu.
A quarta-feira (7) começou cedo e em clima de comemoração: eram os 11 anos da Feira Agroecológica e Solidária de Itapipoca, que acontece todas as quartas a partir das 6h na praça da igreja matriz. Após a celebração, com direito a bolo de cenoura da agricultura familiar, foi dado início ao XI Encontro Territorial de Agroecologia e Socioeconomia Solidária, que também comemorou seu 11º aniversário.
O painel de abertura, “Agroecologia: pelo direito à vida no semiárido” – tema do encontro –, foi apresentado por Laeticia Jalil, professora de Sociologia Rural na Universidade Federal Rural de Pernambuco e coordenadora do GT de mulheres da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA). Nele, os participantes foram convidados a pensar historicamente o território de Itapipoca e, a partir de perguntas que os faziam pensar sobre os processos históricos, foi criada uma linha do tempo com os principais eventos compreendidos entre os anos 1970 e 2017. Além da projeção dos desafios e da história que os moradores da região querem construir.
Para a construção da linha do tempo, Laeticia propôs que os presentes participassem. O motivo era simples: quem melhor para contar a história de seu local de morada senão os próprios moradores? E do mesmo jeito que a história foi construída ela foi contada: a várias mãos.
O mais importante na linha do tempo, no entanto, são as conquistas de direito dos agricultores e agricultoras, que não tinham terra e eram trabalhadores e trabalhadoras nas fazendas de monocultura e que nas décadas de 1970 e 1980 conquistaram suas terras e passaram a produzir seus próprios alimentos em seus quintais – com uma variedade enorme. Essas conquistas, contudo, não aconteceram por acaso, foram fruto de muita luta – que resultaram inclusive em mortes.
Muitas das agricultoras e dos agricultores presentes no XI ETA afirmaram que até a chegada do CETRA em Itapipoca – em 1981 – eles não sabiam o que era agroecologia, mas que mesmo sem saber já a praticavam e levavam a agroecologia como um estilo de vida. Durante a discussão, seu Zé Julio, do assentamento Várzea do Mundaú (Trairi), conta que a “agroecologia não é só não queimar. É amar e respeitar tudo o que vem da natureza”.
Após o passeio histórico, Laeticia finalizou sua fala propondo um olhar para o futuro: que história vamos construir para nosso território? A união, a educação e a manutenção dos direitos foram os mais citados nas falas.
O primeiro dia foi finalizado com apresentações de grupos locais e um internacional em um ato artístico e cultural realizado na Praça do Hotel Municipal. A roda de capoeira do grupo Capoeira Angola iniciou o ato, seguido de apresentação da Cia. Ikannús de Hip Hop, dos grupos Tambores AfroBaião e Ponta de Lança, seguidos do show do grupo argentino Los Satelites, junto dos itapipoquenses da Dona Zefinha.
O segundo e último dia do XI ETA foi marcado pela análise da atual conjuntura do país e pela realização de oficinas. Pela manhã, a ex-professora e atual secretária nacional de relações do trabalho da CUT, Graça Costa, realizou um panorama da atual conjuntura política nacional.
Graça trouxe, em sua fala, as bases do recente golpe, e fez um passeio histórico pelos avanços econômicos e sociais do país ao longo dos últimos governos, comparando com os recuos dados pela atual gestão – terceirizações, cortes dos projetos sociais, reforma da previdência.
Para ela, o “maior desafio é unificar as lutas” e a maior luta é para que a constituição seja seguida e respeitada. Além do panorama das conquistas, Graça fez uma projeção para o futuro, ainda incerto.
A tarde foi o momento das oficinas, que culminaram na construção de painéis e na apresentação dos mesmos. Comunicação, mulheres e agroecologia, educação contextualizada e juventudes foram os temas das quatro oficinas, que envolveram homens e mulheres, os jovens e os mais velhos nas trocas de saberes e experiências.
Ministrada por Amanda Sampaio, comunicadora popular do CETRA, a oficina de comunicação trouxe a discussão do direito à comunicação e da comunicação popular e não hegemônica. Laeticia Jalil, professora da UFRPE, ministrou a oficina de mulheres e agroecologia, que uniu mulheres e homens na discussão sobre direitos das mulheres e experiências das participantes.
A oficina de juventudes ficou por conta das artistas Flávia Cavalcante e Tamily Braga, ambas da equipe do CETRA, que pautaram as necessidades, os sonhos e as aspirações da juventude, com a realização de uma performance apresentada ao fim. A de educação contextualizada ficou a cargo da Cáritas Diocesana de Itapipoca, com Paulo César Oliveira, discutindo a necessidade da adaptação da educação das escolas e universidades ao contexto regional.
O XI Encontro Territorial de Agroecologia e Socioeconomia Solidária foi encerrado com a apresentação dos painéis de cada oficina e com a performance criada na oficina de juventude. O encontro, que é construído pelo CETRA junto da Rede de Agricultores/as Agroecológicos/as e Solidários/as do Território Vales do Curu e Aracatiaçu, fortaleceu a teia que tece as resistências e lutas por uma vida digna no Semiárido brasileiro.