Escola de Gastronomia Social visita produção de óleo de coco agroecológico da comunidade Sítio Coqueiro
O meu coco é a cor da minha gente. Assim chama o novo espetáculo do grupo Balanço do Coqueiro, formado por jovens do assentamento Maceió, em Itapipoca (CE). E é bem ali, na comunidade Sítio Coqueiro, umas das 12 comunidades do assentamento da reforma agrária, que parte desse grupo cultural se soma a outros assentados para dar uma nova utilidade ao coco que nomeia a comunidade e o grupo cultural.
Desde 2017, incentivados pelo assessoria técnica de viés agroecológico do Cetra, um grupo formado majoritariamente por mulheres iniciou a produção de óleo de coco na comunidade. Produção que é vendida nas Feiras Agroecológicas e Solidárias de Itapipoca e Fortaleza, e também por encomenda. Com o desejo de trocar conhecimentos, o pesquisador da Escola de Gastronomia Social Mateus Tremembé, e seu mentor na Escola, Fábio Menna, estiveram na comunidade para um intercâmbio de experiência com o grupo produtor do óleo de coco no dia 24 de outubro. Mateus, que é Tremembé da Barra do Mundaú – terra indígena localizada na mesma região do assentamento Maceió, em Itapipoca – desenvolve uma pesquisa sobre o tradicional óleo de batiputá feito pelos Tremembé. São mentores da pesquisa, o produtor rural Fábio Menna e o ecólogo Jerônimo Villas-Bôas.
Mateus Tremembé aprendendo a usar o raspador elétrico de coco
Observação do processo de produção do óleo de coco
No dia anterior a visita, Mateus e Fábio tinham testado diversos óleos vegetais no laboratório da Escola de Gastronomia Social, localizada no Cais do Porto, em Fortaleza. Mas foi na visita que Mateus descobriu por primeira vez o passo a passo da preparação do óleo de coco em grande quantidade. “Eu sempre soube do óleo, mas eu nunca tinha visto o processo de perto. Achei muito interessante como se construiu o melhoramento do produto ao longo dos anos, tendo como base as experimentações que foram feitas pelo grupo, fiquei fascinado”, conta o pesquisador. Armazenamento, embalagem e as formas de organização do grupo – que é liderado por mulheres jovens – também foram itens observados como relevantes durante o intercâmbio de experiência.
“É muito importante pra pesquisa do Mateus, e também pra mim, conhecer esse processo. É importante ver o quão relevante é o envolvimento das pessoas no processo, indepente até das soluções técnicas que estamos conversando, o que vai viabilizar uma cadeia, fazer um produto existir, estar no mercado e gerar renda, é o envolvimento das pessoas”, ressalta Fábio Menna sobre o comprometimento e envolvimento coletivo do grupo para a produção de óleo de coco de excelente qualidade.
Rojany Santos, uma das jovens que lidera o grupo, ressalta a identificação do coco com a história e cultura da própria região. No início do grupo cultural Balanço do Coqueiro, eram as quengas de coco um dos principais instrumentos de percussão durante as apresentações. Esse entrelace entre cultura alimentar e arte é um ponto forte da região, elemento que sempre está presente em visitas de troca de experiências. “Essa atividade foi muito importante, a gente sabe que esse processo é bem maior, ele vai desde a questão da arte, da cultura, da organização. O grupo é muito organizado, é um sistema que é importante refletir para que outros grupos estejam se espelhando”, afirmou Luis Eduardo Sobral, agrônomo e coordenador do CETRA.
Grupo do intercâmbio de experiência
Visitando a tecnologia social do biodigestor na comunidade Sítio Coqueiro, assentamento Maceió – Itapipoca/CE
O início da trajetória na produção do óleo de coco não foi fácil, mas a união do grupo e a força do trabalho coletivo garantiu o desenvolvimento da produção do óleo de coco de forma agroecológica e contínua. “Nós somos resistentes porque sempre tinha alguém dizendo que não ia dar certo. Nós somos jovens que estamos resistindo no campo enquanto outros ao terminar o ensino médio querem ir embora pra Fortaleza, Itapipoca, trabalhar lá e pronto”, afirma Rojany. Durante o intercâmbio de experiência na comunidade, o grupo ainda teve a oportunidade de conhecer a tecnologia social do biodigestor que produz gás de cozinha a partir de esterco de gado/porco.
O projeto-pesquisa “Murici e Batiputá: o que alimenta e o que cura, saberes e sabores do povo indígena Tremembé da Barra do Mundaú” vem sendo desenvolvido atráves do Laboratório de Criação em Cultura Alimentar e Gastronomia da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, com mentoria de Fábio Menna e Jerônimo Villas-Bôas, e apoio do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA).