Juventude Rural do Semiárido troca experiências em Picos, no Piauí

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Texto: Miguel Cela, com informações de Cassia Pascoal e Samuel Farias
Fotos: Cassia Pascoal e Samuel Farias

 

Entre os dias 05 e 07 de abril aconteceu o II Encontro de Jovens Rurais do Semiárido com o tema “Os novos desafios da sucessão rural do Semiárido brasileiro”. O encontro reuniu cerca de 400 jovens dos dez estados do Semiárido Brasileiro em Picos, no Piauí.

 

Na primeira noite, Joseli Cordeiro, mulher negra e quilombola da comunidade de Batoque, acompanhada pelo CETRA através do Projeto Paulo Freire, participou da solenidade de abertura do encontro. Sua fala trouxe a força das mulheres e dos jovens, e conta que essas personagens sempre estiveram na luta, mas foram invisibilizadas dela. “A luta a gente sempre fez. Mulheres e jovens sempre estiveram em todas as trincheiras, mas historicamente nós fomos sempre invisibilizados”, e completa: “a gente quer permanecer, mas com as condições e com as oportunidades possíveis que façam com que a gente permanece lá”.

 

Na manhã do segundo dia, o evento teve início com a palestra “Os novos desafios da sucessão rural do Semiárido brasileiro”, do teólogo Leonardo Boff, trazendo a temática que esteve presente nos outros espaços do evento. Na ocasião, Mateus Tremembé entregou a Boff a experiência do Provo Tremembé da Barra do Mundaú sistematizada através do Projeto Ação Tremembé, realizado entre os anos de 2016 e 2019 pelo CETRA, com financiamento da União Europeia.

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Mas não era só Mateus que representava o Ceará. A delegação do estado contou com 40 pessoas, entre jovens e técnicos/as de entidades que executam projetos de fortalecimento das juventudes rurais, indígenas e quilombolas, em sua maioria projetos financiados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), como é o caso dos Projetos Paulo Freire e Dom Helder Câmara. Dos 40 cearenses, 8 são jovens acompanhados pelo CETRA.

 

Ana Cristina Rodrigues, 28, é jovem agricultora e feirante agroecológica da comunidade Sítio Croatá, em Sobral. Para ela, o evento proporcionou muitas trocas, de experiências e de conhecimentos. “O que me marcou foi poder conhecer pessoas de outros lugares. Vou levando as experiências e os conhecimentos que adquiri com as pessoas diferentes que conheci nesse evento”, conta. Mas Cristina não leva apenas os conhecimentos.

 

Em sua bagagem estão, também, as sementes crioulas que trocou com agricultoras e agricultores da Paraíba: “Eu trouxe milho natural, feijão de corda e jeruimum de leite. Vou levando semente de milho, mas de outro tipo, de fava e de quiabo”. A jovem é acompanhada pelo CETRA no Projeto Paulo Freire II.

WhatsApp Image 2019 04 06 at 09.35.13Já para Laricia Hervila Santiago, 29, da comunidade Sítio dos Lopes, em Banabuiú, acompanhada pelo CETRA através do Projeto Dom Helder Câmara, as experiências que viu foram imporetantes para perceber que não está só: “Eu tenho meu quintal produtivo e tinha minha criação de galinha e como eu não tinha ajuda de ninguém, eu falei assim: ‘ah, eu vou começar, mas eu não tenho incentivo'”. Foi durante a plenária “Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural: os novos rumos da Política Pública de Juventude do Campo”: “teve uma jovem com os quintais produtivos. Isso pra mim me deu mais esperanças de eu poder recomeçar meu quintal produtivo e começar a criar minha galinha”, afirma.

 

Além de perceber que é possível fortalecer o quintal, a jovem aprendeu, ainda sobre as possibilidades da diversificação dos alimentos e ingredientes na oficina “Gastrotinga – Alimentos da caatinga utilizados na gastronomia”. “Eu aprendi sobre os cactos, que pode fazer mousses e bolos”, conta.

 

Laricia é acompanhada pelo cetra através do Projeto Dom Helder Câmara, que esteve representado com sete jovens – sendo duas do Ceará e cinco de pernambuco, do agreste e do Araripe – a partir de uma articulação com a Rede ATER Nordeste, que proporcionou a participação dos jovens. Além de Laricia, Aparecida da Silva também estava presente no encontro. Ela é artesã da comunidade Lajes, em Quixeramobim. A artesã espera que venham outros encontros, para que possa reencontrar os amigos que fez nesse. “Fiz novos amigos, novas amizades que a gente não conhecia, as pessoas dos outros lugares. amei participar do encontro! e que venham muitos outos pra gente poder se conhecer melhor”, relembra.

 

Laricia, Aparecida e Cristina são acompanhadas pelo CETRA através do Projeto Dom Helder Câmara e Paulo Freire II. Além das jovens, Janiel Sousa, Joseli Cordeiro e Thiara de Souza, acompanhados pelo Projeto Paulo Freire II em Sobral e Bárbara Alves e Mateus Tremembé, jovens de Itapipoca indicados pelo Fórum Cearense de Convivência com o Semiárido. Da equipe técnica do CETRA participaram do encontro Cassia Pascoal (Projeto Paulo Freire) e Samuel Farias (Projeto Dom Helder Câmara).

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O projeto Paulo Freire é uma ação do Governo do Estado do Ceará, executado no território de Sobral em parceria com o Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA) e com financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). E o Projeto Dom Helder Câmara é uma ação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER) executado no território do Sertão Central em parceria com o CETRA e com financiamento do FIDA.

 

O II Encontro de Jovens Rurais do Semiárido foi uma realização do FIDA, Programa Semear Internacional, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), Governo do Estado do Piauí, através da secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), Coordenadoria da Juventude do Piauí, Projeto Viva o Semiárido, Instituto Federal de Educação Tecnológica do Piauí (IFPI), além dos projetos apoiados pelo FIDA na Bahia (Pro-Semiárido), Ceará (Paulo Freire), Paraíba (Procase), Sergipe ( Dom Távora) e Piauí (Viva o Semiárido) que estarão envolvidos na mobilização dos jovens. O projeto Dom Hélder Câmara, presente em vários estados, também fez parte desta equipe.

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