Chamadas de ATER Agroecologia: A semente que fica é a do conhecimento
Texto: Francisco Barbosa
Fotos: Francisco Barbosa
O fechamento de um ciclo traz diversas sensações: satisfação, saudade, felicidade, tristeza… E não foi diferente com a série de encontros que o CETRA realizou, desde o dia 31 de julho, com representantes dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs), agricultoras/es e técnicas/os que fazem parte dos territórios cearenses que realizam a chamada de Assistência Técnica e Rural – ATER Agroecologia: Território do Maciço de Baturité, Território do Sertão Central e Território do Vales do Curu e Aracatiaçu.
Esses encontros aconteceram com o objetivo de debater sobre a chamada de ATER que cada território realiza; analisar a atual conjuntura política; falar sobre os trabalhos realizados dentro da perspectiva agroecológica; rodas de conversa com troca de experiências entre as/os participantes e; diálogo sobre os avanços, desafios e perspectivas da agroecologia. Mas, além disso, as atividades também serviram para informar aos agricultores e agricultoras que a chamada de ATER está dando uma pausa em função do descumprimento do contrato por parte do Governo Federal, que não paga as organizações sociais desde outubro de 2017, inviabilizando a continuidade dos projetos de Ater Agroecologia nos territórios.
Mas essa notícia não abalou as/os participantes dos encontros ou ganhou significado de despedida. Durante os eventos, as falas das famílias que foram acompanhadas pelo Projeto foram encorajadoras, reconfortantes e satisfatórias, mostrando que todo o trabalho realizado gerou frutos e novas sementes foram plantadas.
Para a agricultora Elizângela Rodrigues de Oliveira, 39, moradora da comunidade Lagoa Redonda, no município de Redenção, a ação realizada no Território do Maciço de Baturité trouxe mais conhecimento para o seu trabalho no campo. “Esse encontro é muito especial porque nos juntamos e dividimos experiências. Buscamos mais conhecimento. Que pena que está acabando, mas foram muitas coisas boas. Eu queria que isso aqui nunca acabasse”. E continua falando um pouco sobre o que mudou em sua rotina de trabalho com a participação no Projeto. “A equipe do CETRA trouxe conhecimento, nos tornamos mais valorizadas, a nossa comunidade passou a nos reconhecer mais fortemente como mulher, como agricultora e o nosso conhecimento só veio a aumentar dia a dia com o que eles (técnicos e técnicas) passaram pra gente”, finaliza.
Em cada território que a equipe do CETRA realizou esse evento, as reações foram diversas, mas o que foi sempre marcante foi a sensação de perseverança que as agricultoras e agricultoras mostravam em suas falas ao afirmarem que os trabalhos não acabariam ali.
“O projeto trouxe um esclarecimento amplo para nossas vidas, pros nossos quintais. Foi muito bom esse encontro de hoje, que pena que é um encerramento, mas nós não vamos baixar a cabeça, nós vamos erguer a nossa cabeça e não deixar a peteca cair. A tempestade vai passar e vai vir mais dias de bonança pra gente”, diz Antônia Marta, 49, moradora da comunidade Bom Jardim, no distrito de São João dos Queiroz, em Quixadá, localizado no Território do Sertão Central. E continua. “Vou continuar a pôr em prática o que aprendi aqui. Jamais vou deixar que fique no esquecimento um projeto de muita luta, de muita gratidão. Vou pôr em prática o que aprendi e incentivar muita gente na minha comunidade”.
O último evento, realizado em Itapipoca/CE, reuniu aproximadamente 150 participantes. Ali, encerrando a sequência de encontros nos territórios, a ação teve uma sensação de dever cumprido.
“Esse projeto foi muito importante pra cada um de nós que tá aqui. Lamento não poder continuar, mas a gente deve continuar sempre em frente, sem baixar a cabeça e continuar com o que a gente aprendeu. Agora temos que repassar ‘pras’ outras pessoas o que a gente aprendeu. A gente também melhorou a nossa saúde, porque a gente não sabia a quantidade de veneno que comia em cada fruta que comprava, agora a gente produz e sabe da onde é que vem”, conta a agricultora Maria Lúcia de Sousa da Silva, moradora da comunidade de São Pedro, no município de Apuiarés, localizado no Território do Vales do Curu e Aracatiaçu.
As chamadas de ATER tiveram início em 2015 e realizam trabalhos voltados para famílias agricultoras, visando consolidar e ampliar processos de promoção da agroecologia para promoção do desenvolvimento local/territorial e de seus processos organizativos.